domingo, 13 de maio de 2012
O Culto de Nossa Senhora dos Prazeres na freguesia de Mateus (Vila Real)
Esta festa, em honra de Nossa Senhora dos Prazeres, tem lugar na freguesia de Mateus no domingo seguinte ao da Páscoa, ou de Pascoela, a que também chamam de Quasímodo.
Presentemente os festejos constam de missa celebrada na capela da Casa de Mateus (cuja padroeira é Nossa Senhora dos Prazeres) e animação musical. Naquilo que é a única excepção do ano a missa dominical das 11 horas, celebrada na igreja matriz de Mateus, é assim transferida para a capela do Palácio.
Origens da festa de Nossa Senhora dos Prazeres em Mateus
Embora não se sabendo desde quando é celebrada a festa de Nossa Senhora dos Prazeres, na freguesia de Mateus, não temos dúvidas que ela contará mais de três séculos de existência. A instituição do morgadio que deu origem à Casa de Mateus foi feita em 5 de Dezembro de 1641, no reinado de D. João IV, e esse morgadio foi vinculado à Capela da Nossa Senhora dos Prazeres. Trata-se não da actual capela da solar, também ela de invocação a Nossa Senhora dos Prazeres, mas de uma pequena capela actualmente inexistente. Sabe-se que em 1640 foi pedida licença à arquidiocese de Braga para se dizer missa na dita capela.
Pouco mais de um século depois, sabe-se que havia já grande romagem a esta antiga capela, ao tempo em que, por volta de 1746, se deu início à construção da actual e imponente capela, a qual durou mais de 15 anos a construir.
Capela de Nossa Senhora dos Prazeres contígua ao Solar de Mateus.
(foto de António Conde)
Nas memórias paroquiais da freguesia de Mateus de 1758 o referido pároco refere que “a esta capela [a antiga] acode muito gente de romagem em dia da mesma Senhora por estar nesse dia exposto o corpo de São Marcos mártir, irmão de S. Marcelino e além deste dia em todo o ano sempre concorre gente ainda que com menor frequência”.
A festa de Nossa Senhora dos Prazeres em Mateus no século XX
Do início do século XX existem vários registos que apontam para a popularidade desta festa. Assim num artigo de Abel Botelho de 1902, publicado na Revista Portugal-Brasil, é feita uma referência aos excessos praticados pela população nos dias da festa, os quais aproveitando a boa vontade dos Condes de Mateus de franquear o acesso à capela no domingo da Pascoela, entravam abusivamente nas propriedades para comer as suas merendas e devassavam-nas. Por essa razão, durante alguns anos, esse acesso foi interdito.
O jornal “O Distrito de Vila Real”, de 7 de Abril de 1909, dá conta da pouca frequência à festa devido ao frio que grassava.
Por sua vez o jornal “O Vilarealense”, de 15 de Abril de 1909, dava notícia de que a capela deixou de estar aberta aos fiéis no domingo de Pascoela devido aos distúrbios que o povo praticava nas propriedades da Casa de Mateus. O mesmo periódico na sua edição de 27 de Abril de 1911, nada refere em relação á interdição de acesso à capela, embora seja razoável, em função do período revolucionário, que o acesso à capela fosse autorizado, mas faz referência ao facto de haver pouca gente em virtude de os transportadores se terem deslocado para a comício republicano da Campeã.
Em relação aos festejos de 1910 o jornal “Eco dos Tribunais”, de 3 de Abril, dá notícia da realização da festa “na pitoresca povoação de Mateus a que concorre grande número de pessoas desta Vila Real, que ali vão em passeio, fazendo-se acompanhar do indispensável petisco tão deliciosamente saboreado no campo”.
Este último informe é precioso já que nos desperta a atenção para uma curiosidade etnográfica que sabemos existir em outros lugares do nosso País.
Imagem de Nossa Senhora dos Prazeres.
Curiosidades nos festejos do domingo de Pascoela
A segunda-feira de Pascoela é conhecida em algumas partes do País por ser o Dia do Bom Verão e ser o dia em que começam as sestas, as quais se prolongam até 8 de Setembro.
De facto tal não se verifica em Mateus onde, ainda há poucas décadas, o dia de início das sestas era o dia de Santa Cruz que se festeja a 3 de Maio e o dia de início das merendas era o dia 25 de Março.
Neste domingo de Pascoela era comum em muitas terras as pessoas irem para os campos fazer merendas e segundo se dizia esperar o Bom Verão.
O jornal “O Século” de 24 de Abril de 1906 dá-nos conta dos festejos de Nossa Senhora dos Prazeres, nos arredores de Lisboa, fazendo referência ao início das sestas e ao facto de as pessoas irem para os campos comer as suas merendas, respirar ar puro, cantar e confraternizar colocando as suas toalhas merendeiras na relva ou nos bancos dos retiros, sendo as merendas regadas pelo tradicional vinho.
O Culto de Nossa Senhora dos Prazeres em Portugal
Este culto parece ter sido introduzido em Portugal pelos franciscanos, no final do séc. XVI. Nossa Senhora dos Prazeres é também conhecida por Nossa Senhora das Sete Alegrias e a referência a prazeres, como sinónimo de alegria, dirá respeito aos passos da Anunciação, da saudação de Isabel, do Nascimento de Jesus, da visitação dos Reis Magos, do encontro com Jesus no Templo quando ele conversava com os doutores da Lei, da aparição de Jesus Ressuscitado e da coroação de Maria no Céu.
Estudo histórico de António Conde.
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Após uma cuidada e ponderada leitura, muito me apraz registar e mais elogiar este magnifico trabalho de pesquiza e recolha histórica, de uma freguesia de caraterísticas eminentemente rurais e que a não ser alguém com as suas raízes e memórias de vida vividas, todo este material provavelmente se iria perder.
ResponderExcluirA exemplo desta freguesia, lanço-lhe daqui um repto:
Porque não fazer este tipo de recolha em todas as freguesias do concelho de Vila Real e quando todo o material estivesse recolhido pensar na publicação em livro com todo este historial, para memória futura, e, assim podermos honrar os nossos egrégios avós.
Um livro a modos como aquele que foi editado sobre as freguesias do concelho de Vila Real, por Ribeiro Aires, mas com mais enfoque nas freguesias rurais e nestes valores que se não houver recolha vão perder-se com a morte das pessoas.
Eu sei de casos em Ferreiros, freguesia de Borbela, que só a memória das pessoas ainda mantem vivos.
Haja alguém com aptidão para este trabalho, que tenha a ousadia de meter mãos à obra.
PS:
Se me sair logo o euromilhões lhe garanto que lhe financiaria com muito agrado este trabalho.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirCumpre-me agradecer o seu comentário e pedir-lhe desculpa de só agora o publicar e comentar já que, por distracção, não foi localizado.
ExcluirO trabalho que refere faz todo o sentido. Exigiria, contudo, a mobilização de uma equipa multidisciplinar, constituída por especialista(s) na área da história, da etnografia e pessoal de campo que fizesse, em cada freguesia, um levantamento dos diversos elementos do património imaterial. Hoje as pessoas estão mais sensíveis para estas questões, mas a conjuntura financeira dita as limitações.
O património material perdura no tempo e até as ruínas continuam a ser um testemunho passível de ser estudado. Com o património imaterial passa-se o contrário - muitos dos seus elementos perdem-se, para sempre, quando não são registados os testemunhos de quem os viveu.
Na falta de financiadores só a "carolice", teimosia e sentido de dádiva de um ou outro investigador, que se permita auto-financiar a sua investigação, possibilita a construção de estudos sobre estas temáticas. Pena é que se percam, com as pessoas que morrem, os saberes, os testemunhos, a experiência de quem viveu certos acontecimentos ou vivências que são irrepetíveis.
Querer nem sempre é poder, ou seja quem sabe nem sempre pode e, quem pode, nem sempre sabe.
Depois da publicação deste estudo apraz-nos registar 2 factos importantes que a este assunto dizem respeito:
ResponderExcluir1. A introdução, na procissão do Mártir S. Sebastião, do andor de Nossa Senhora dos Prazeres o que nunca tinha acontecido.
2. A construção de um nicho de Nª Sª dos Prazeres, no Largo dos Condes de Mateus, por iniciativa da Junta de Freguesia de Mateus que, desta forma singela ofereceu ao povo da freguesia esta imagem que, "pedra a pedra", vai enriquecer o nosso património.
A freguesia de Mateus está mais sensibilizada para este culto tão português e tão nosso, há vários séculos.